Reconhecimento
- jade turquesa
- 2 de fev. de 2021
- 2 min de leitura
Palavra muito usada na educação dada à moda antiga mas que tomou novo vulto com os maravilhosos acessos da tecnologia. Meu celular me reconhece! Coisa difícil de entender para quem, como eu, não compreende como um avião pode subir e voar com todo aquele peso. Só aceito.
Mas quero restabelecer aqui o contato com essa palavra atualmente, a meu ver, subutilizada.
Nos anos que se passaram, desde a juventude até a idade madura (ia dizer madureza - dá pra imaginar as duas palavras que juntava), tudo passado dentro de um prédio de tribunal, fui exemplarmente reconhecida.
Nas funcões que desempenhei sempre considerei o zelo elevado ao limite do possível (as vezes até uma régua depois). Lá fiz amigos de toda sorte. Amigos de pose, de posição, de alegrias, de choros, de preocupações, amigos para todas as horas que lá passei. Adulada, respeitada, festejada, como agora é a pobre pessoa que me substituiu. Coisas do poder, ilusão muito besta mas que envolve rasas almas. Confesso, me envolveu.
E os amigos de pose, de posição, das alegrias e preocupações reconheceram neles a necessidade de retirar os adornos e me deixar ir. Sem remorso. Sem adeus.
A falta de adeus foi uma benção que nunca poderei ressarcir a todos. Ia chorar. E há uma sábia lição que aprendi após os 50 anos. Você tem que ser feliz porque o choro faz aparecer uma bolsa abaixo dos olhos que te envelhece mais 50 anos. Não tem creme nem procedimento que dê jeito.
Hoje sei que não tinha nada a despedir. Aquela missão terminara. E para mim, nem fiz bem feita.
Ser crítico de si mesmo pode ser uma maldição. E dos outros, uma praga pior ainda.
Para quem me conheceu sempre viu o viez da opinião. Estou mudando, como diz a apresentação do meu blog, o mundo também mudou, nada mais justo do que prosseguir ao lado do rebanho mas agora sei que cada um tem uma história e faz nele o que é hoje. Aceito melhor as pessoas para poder me aceitar também.
Diante dessa claridade e opostamente a ela, tenho receio de responder a esta pergunta quando me faço; porque nunca, jamais senti falta de lá? Porque tantos anos não me fizeram raízes (afinal minha vida passei transitando por andares e pessoas)? Pessoas, essa caixa de segredos.
Da pessoa que menos me reconheceu recebi o melhor presente, minhas horas de volta. Tenho a mais pura percepção da palavra gratidão (em moda) agora, pelo que me foi oferecido no momento em que a porta me abriu para o mundo.
Fico pasma em saber que me bastou apenas poucas horas para deixar de sentir apego à minha senzala.
Senti sim falta de alguns amigos que perdi no caminho. Mas reconheço muito mais neles do que em mim a benevolência para com as intrincadas relações humanas que tivemos que desempenhar.
No final das contas (e a gente coloca tudo na calculadora do celular) não cabe em mim o tamanho do agradecimento.
Espero não estar engordando todos as pessoas que por mim passaram de tantos elogios que faço na intimidade da minha consciência, reconhecendo as ofertas que cada um fez para mim. Se deixei passar alguma, agora agarro com alegria mantendo na memória as lições aprendidas.
Os nossos olhos aprendem, cada parte de você aprende.
A reconhecer.
Obrigada.

Menina Jade, (sim, vc sempre me mostrou um lado bem menina, embora sempre tenha sobressaído a grande profissional que sempre foi), linda reflexão. E como é bm transitar pelo passado e sentir que podemos sim traze-lo ao presente pra nos fazermos bem melhor!!! Saudades de nosso tempo, porém, sem melacolia, Um beijo carinhoso!