Paris, atendendo a pedidos
- jade turquesa

- 3 de mai. de 2020
- 3 min de leitura
Quando eu era rica, fiz várias viagens para lugares maravilhosos.
Difícil viajar e se decepcionar se é você mesma quem escolhe o destino, mas se o abelhudo começa a fazer planos e você relaxa e topa, pode ser um desastre.
Com namorado, marido, namorido, amigas, família, não necessariamente nessa ordem, fiz viagens muito lindas (com uma única exceção, mas não vou entrar nessa...só quero boas lembranças, agora e sempre).
Não pensem que foram muuuuuitas, só algumas (posso ter exagerado por amor à explanação e por um corrigido complexo de inferioridade hehehe).
Sempre viajei com companhia. Até um dia.
Ninguém podia viajar comigo. Me enchi de coragem, comprei as passagens em suaves...e au revoir. Destino: Paris, minha paixão.
É certo que meu curso na Aliança Francesa dava uma certa segurança para encarar o que viria. E reza. Muita reza.
Durante o vôo fiquei maquinando tudo o que faria, de manhã, de tarde, de noite. Onde iria passear, comer, aprender, divertir (fácil se divertir por lá). E claro, vou exercitar meu francês.
Pensei: não vou falar português nenhum dia!
Era um vôo da Tam. Deu tudo certo, não balançou, nem gritei na decolagem ou no pouso (morro de medo de avião, aquela mágica está acima das minhas possibilidades de entendimento).
Rumo à alfândega, um casal já maduro atrás de mim estava com receio de se encrencar por não falar a língua. Me ofereci para ajudar. Passei com eles, respondi para eles as poucas perguntas e voilà, tudo certo. Ficaram super, hiper agradecidos... e a história continua.
O aeroporto Charles de Gaulle tem uma ligação direta com uma grande estação de trem que transporta viajantes e moradores para quase toda a França.
Para lá caminhava aquele bando de brasileiros quando vi um militar vestido com roupa de guerrilha com uma enorme metralhadora nas mãos tentando, com cara de poucos amigos, explicar que foi encontrada uma mochila sem dono e por medida de segurança a estação estava fechada até a chegada do esquadrão antibomba.
Cheguei afobada e perguntei quanto tempo demoraria. Ele respondeu que não sabia. Talvez mais de 1 hora.
Bem, virei para trás e vi todos aqueles brasileiros de olhos arregalados esperando de mim uma palavra salvadora.
Não fui vaiada ao explicar o que estava acontecendo mas um rumor espontaneo do tipo "ai" soou no saguão. Seguimos para o ponto de taxi e chegando lá fui abordada por um casal jovem que me pediu para pegar o taxi com eles propondo praticar a agora famosa rachadinha.
Topei de imediato, fazendo o que jamais faria em SP, dividir um taxi com um casal desconhecido (e participar de rachadinha, claro). Durante o percurso indiquei, a pedido, alguns restaurantes legais e em conta.
Eles desceram antes e o taxi me levou para o hotel a salvo. Pensei, doravante só falo francês.
Eram poucos dias de viagem e me joguei. Andei um dia inteiro, flanei!!!
No outro dia, nova andança, ruas maravilhoras, o olhar entretido em lindas vitrines, sons de risos e exclamações numa famosa avenida repleta de pessoas e palavras faladas em todas as línguas, quando ouvi ao longe: Jaaadeeee, Jaaaaadeeeeee....quase não reconheci o meu nome, imagina, impossível, estou em Paris, quem me conhece?
Mas Jade era eu! Aquele casal do episódio na alfândega gritava do outro lado da calçada. Uma grande coincidência. Passamos parte da tarde juntos, ajudei com a língua e eles me ajudaram indicando um restaurante português bárbaro, chamado Pedra Alta, para saborear um bacalhau à moda. Me salvaram da fome naquela noite.
No dia seguinte, aventura me espera, pensei. E fui conhecer novas emoções.
Depois de andar até não sentir os pés, parei numa pizzaria para conter minha gula, uma das dicas que dei para aquele jovem casal do taxi. Queria uma inteira, só para mim.
Estava salivando sobre minha pizza, com olhar pregado na mesa, quando de repente subi os olhos e na porta rolante de vidro, fazendo tchauzinho para mim, quem? O casal da rachadinha.
Sentaram comigo e disseram ter pensado ser impossível me encontrar lá. Foi um jantar bem agradável. E para quem quiser uma pizza muito parecida com a nossa, Pizza Pino na cabeça.
Bom, lá mesmo conclui: fiquei famosa!
Muito gostoso lembrar dessas pequenas e felizes aventuras, Parece que ficam mais nítidas quando faladas em sua língua de origem.
Ainda amo Paris mas hoje cultivo outro tipo de riqueza.
Merci a tous.









Numa dessas várias entradas suas em Paris, orgulho em dizer que fui em duas (0u três) com você!!!
Sorte minha ☺️!
Tem como não amar? O mundo é ou nao é uma ervilha? Adorei o texto.