Os mil nadas
- jade turquesa
- 29 de jun. de 2021
- 3 min de leitura
Atualizado: 1 de jul. de 2021
Quantos pequenos alfinetes usamos para nos expressar e também os sentimos quando arremessados por outras pessoas no nosso dia a dia.
Esses objetinhos pontiagudos que manuseamos com tanta habilidade e vão se incorporando à nossa maneira de ser, ao nosso cotidiano e muitas vezes nem notamos, dado à mecânica que se instala (lembra do câmbio mecânico? Nem sentíamos a troca de as marchas).
E não só aqueles que damos e recebemos que são perfurantes, não é? As contrariedades a que estamos expostos também nos desafiam.
Quer mais desafio que sentí-los no nosso mundo interior, as picadas das inquietudes, angústias...
Viajei por muitos caminhos procurando sanar as poucas réstias de consciência no atribulado ritmo do dia a dia. Quem conseguiu se conhecer melhor na loucura da rotina da vida, meus parabéns. Quase toda a minha limitada atenção foi dirigida para o trabalho, para mim, por fora, meio que sem querer.
Mas foi buscando dentro de mim mesma que dei de cara com um mundo desconhecido onde a confiança e a calma interior estão nesse esconderijo e nem sempre ao meu dispor. Vivo procurando, ora encontro, ora perco, num esconde-esconde fora da idade.
Ouvi certa vez, quando meus ouvidos estavam atentos – porque nem sempre – que o controle de sua casa mental onde reside a sua serenidade é sua. Esse controle deve ser exercitado, como fosse um músculo, para que, frente a uma situação de stress, seja impossível tirar esse leme de suas mãos. Achei muito interessante a colocação. Logo pensei, graças, é uma ajuda! E fui queimando os neurônios...
Ora, se o controle é meu, se quem manda nessa casa sou eu, não pode uma pessoa, qualquer pessoa ou uma situação qualquer me arrancar desse estado sereno, senão o controle não está nas minhas mãos, está nas mãos dessa pessoa ou dessa situação. Se qualquer um me tira do sério ou se 1 me tira do sério, entreguei o meu controle pro sujeito.
Entregar o controle da minha casa mental à alguém, quantas vezes fiz isso! Quantas vezes deixei estranhos ou íntimos coordenarem minhas emoções e pior, controlar o que faço com elas! Quantas ceninhas.
As emoções são fisiológicas, difícil ou impossível o controle porque surgem por força de produção de substâncias em nosso organismo (de modo geral), mas a forma pela qual atuamos com elas, o ‘moment after’ isso sim podemos controlar.
Nesse aprendizado notei a variedade de coisas que habitam essa casa (a mente) tão desconhecida: as emoções – boas e más, a memória – quase sempre as tristes, os pensamentos – fruto de crenças e maneiras de encarar a vida, tudo indo e vindo sem parar. Essa variedade de “coisas” é como uma cascata inesgotável e eu não sou a soma disso tudo e nem qualquer uma dessas desacompanhada.
Constatei (a duras penas) que se nessa casa eu sou a manda chuva, todos essas coisinhas são visitas e eu posso vê-las de cima, de baixo ou de frente sem identificar que sou elas.
Sou mais que as minhas emoções, mais que meus pensamentos, mais do que minha memória guardou.
Sou uma consciência (pode dar o apelido que quiser), sou a própria casa que recebe todas essas visitas, de portas abertas mas que as deixa partir para o retorno com novidades.
Olhando dessa forma para dentro de mim, posso experimentar guardar os alfinetinhos (eu sei, não é fácil tchê) para enxergar que realmente eram usados à toa, nos mil nadas que passaram pela estrada.
Pegue as rédeas antes que outro as leve.

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