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O sereno perigoso

  • Foto do escritor: jade turquesa
    jade turquesa
  • 7 de out. de 2020
  • 2 min de leitura

Minha família do lado paterno era do interior de São Paulo. Lá na casa da minha tia comi a minha primeira alcachofra e adorei. A primeira fruta do conde e me disseram que se eu comesse manga à noite morria.

Até hoje quando saboreio uma manga antes de dormir lembro das irmãs do meu pai. E fico alerta. Vai que...

Quantas e quantas histórias fazem uma vida valer a pena?

Fui até na casa de Cândido Portinari, em Brodowski. Me lembro da emoção.

Gente, não é por nada, mas tem uma cidade chamada Brodowski, olha o nome. Ao lado tem outra chamada Batatais. Olha o nome. Se contar que é no mesmo país ninguém acredita.

Naquela época nem pensava em namorar. Nessa idade a menina tem nojo de menino. Mas que fique claro que foi só nessa idade que tive nojo, tá.

Voltando às histórias, tenho muitas, principalmente no que diz respeito aos meus exs.

Neste episódio vou tratar especialmente de um ex-namorado. Não que ele mereça e nem eu sou merecedora de reviver momentos de 'o passado me condena' mas sem a fotografia fica menos vexaminoso.

Já sentiu né. Pois é, a beleza não se põe na mesa. Ele era (agora deve estar pior) feio, meio careca, testa grande, quase barrigudo, não era rico (vocês estavam pensando que era né!?) mas sabe lá por que raios eu gostava dele. Freud explica, ou deveria.

Bem, como todo relacionamento que não se sabe porque começou, esse imagino que tenha começado porque o grupo de amigos era muito bom. Amigos em comum. Esse motivo já sustentou várias relações e já as levou para a eternidade.

Já pensou? Perder o companheiro e ainda, de quebra, levar os amigos? O companheiro ainda vai...mas os amigos, nem pensar, melhor ficar no banho maria. Calma, sossega, abaixa a bola que o mercado não está assim tão aquecido.

Tinhamos brigado e eu tinha ido com meus pais para Santos (eles sempre tiveram apartamento lá e amavam aquela cidade).

Lá pelas tantas, já meio tarde, toca o interfone avisando que meu namorado, provavelmente arrependido da briga, estava me aguardando na portaria.

Meu pai, já de pijama, levantou as antenas e determinou: nada de descer. Desci e como o ap era no 3o. andar e para maior privacidade, decidimos atravessar a avenida da praia e sentar num banco da calçada, do lado do mar.

Conversa vai, conversa vem, briga vai, briga vem, nada de chegar a um acordo quando vejo um homem de pijama vermelho de bolinhas azuis, juro, não é exagero nem invenção (minha mãe punha meu pai ridículo para dormir). Era meu pai vindo na minha direção, cara sisuda, semblante pesado, pensei, ferrou.

Fiquei paralisada, pensei em sair andando mas minhas pernas não corresponderam. Ele foi chegando, chegando, atravessando a avenida naqueles trajes, carros passando, ele chegando.

Chegou. E com o rosto crispado olhou bem para mim e disse firme: SAI DO SERENO!

Meu corpo quase anestesiado recobrou em instantes a força e minhas bochechas não puderam se conter. Comecei a rir. Mas ele não riu. Saí do sereno. Na horinha.

Hoje, sentada aqui escrevendo sobre essa passagem fico pensando no raciocínio que ele desenvolveu até chegar naquele banco de praia. Só as pessoas nascidas e criadas no interior podem ser tão exatas. O sereno é perigoso. Aprendi ali. Só meu pai para ensinar!

Marinha - Candido Portinari





 
 
 

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