O meu francês
- jade turquesa
- 24 de set. de 2020
- 2 min de leitura
Estava na minha casa com amigas quando a Thelma me disse: porque você não viaja com a minha irmã?
Irmã? Mas eu nem conheço...
Foram 34 dias de viagem pelo mundo com a irmã. Como isso poderia dar certo? Duas pessoas estranhas, viajando juntas pela primeira vez e num primeiro contato. Pois é, deu.
Faz 30 anos que contamos as peripécias dessa viagem que aliás não foi a única da dupla.
Imaginem a cena, duas brasileiras (com duas malas enormes, tolas demais, nem imaginamos que teríamos que carregá-las), chegando em Paris.
Eu não falava nenhum "oui" e ela me enganou que falava inglês.
Naquela época a França era muito orgulhosa de sua língua e mesmo se a pergunta fosse em inglês, a resposta vinha obrigatoriamente em francês. Portanto, não havia monólogo entre nós, brasileiras e franceses.
Nós duas em Paris, gente, não havia quem nos entendesse. Comi tudo que não gosto, comprei ingresso errado, até assitimos um tipo de strip, o famoso Crasy Horse, que já pelo nome deixava claro ter pouco do francês.
Mesmo assim, la vie en rose e adoramos viajar por vários países de trem com rail pass.
Quando voltei à patria amada, fui direto me matricular na Aliança Francesa, prometi: mímica nunca mais.
Passados muitos anos, passeando pela cidade luz, desta vez sem amiga, nem prima, nem marido, nem namorado (se você nunca fez, faça) resolvi tomar um vinho antes do almoço num bar bem natureba às margens do Sena (chato né).
Estava totalmente desarmada de pensamentos do tipo "cadê o meu par perfeito" quando notei uma certa insistência de comportamento, uns olhares repetidos, um cruza-faísca, sabe como é? Difícil de explicar mas com certeza já aconteceu com você...quando você olha para um lado e sempre encontra dois olhos cruzando os seus?
Era um francês. Você já viu um francês bonito? Pois eu experimentava pela primeira vez essa sensação. Ele era bonito sim. Eu olhei, ah se olhei!
Logo acertei o corpo, fiz posição sexy (ou quase), tirei a blusa (calma, estava calor e eu tinha uma regata por baixo), dei um remelexo no cabelo, estilo propaganda da tintura Excelence da Loreal, estiquei o pezinho tipo bailarina para aumentar o charme e...
Ele me olhava fixamente quando alguém apareceu e sentou em sua frente. Pá!
Cruzes, era uma mulher. A mais desengonçada que eu já tinha visto. E falava francês mas, juro, não parecia uma francesa.
O suJeito perdeu meu olhar porque eu não conseguia tirar os olhos daquela descabelada, sem charme que estava bebericando com o meu francês. O único francês bonito depois de Alan Delon. Ele falou com ela fazendo biquinho. Decepção.
Sorvi minha taça em único gole, vesti minha blusa e fui andando. Não consegui não olhar para trás e quando me virei ele estava até de pescoço torto olhando o derrière, Pensei, coitada da moça. E eu? Não perdi nada, ainda tenho o meu francês, o da Aliança.

Amo seus posts!!!
Sensacional!!! Identificando muito com vc sobre as malas grandes! As primeiras viagens internacionais a gente leva um guarda roupa inteiro, depois a gente percebe o quanto isso é pesado pra carregar! Sim, a gente tem que carregar as malas e suvir escadas e descer escadas, etc. E qto à França, eles ainda resistem em falar inglês, mesmo assim a gente adora aquele país, não é?