Envelhecimento saudável.

Acho que não houve na história (na minha história) momento como esse que passamos.

Quando imaginei que uma dia desejaria ter mais idade? Ser mais velha para poder (ser vacinada) ter uma chance de viver dentro da porcentagem que me isentaria de morrer vitima do terrível vírus.

Que ironia, quem sempre pretendeu parecer mais nova e, modéstia a parte, quem sempre conseguiu esconder algumas primaveras da verdade. Logo eu! Surprise, quero ser mais velha!

Agora, com os braços estendidos em direção da esperança, conto os dias para receber o tão aguardado antídoto.

Todo esse novo arcabouço me fez pensar nos idosos, que espero, um dia serei.

Ok, a lei diz que já sou idosa, mas me refiro àqueles com “i “ maiúsculo.

Convivi muitos anos com uma doce idosa, minha mãe e hoje, sem ela, imagino quantas atenções ela teria, vindas de mim, nesse período de afastamento (morávamos juntas, que saudade).

Entretanto nem sempre foi assim. O trabalho, as obrigações que assumi com outras atividades me retiraram da convivência nos melhores anos da sua vida.

É que estruturei as minhas responsabilidades de acordo com as minhas necessidades pessoais e (é inconfessável para a maioria ) coloquei a minha vida, ainda em construção, adiante daquela que já fora edificada e já estava estampando uma espécie de ruína.

Quem nunca teve o seguinte pensamento...eles já viveram, eu preciso viver a minha vida?

Mas, com as desculpas devidas, não, não é assim. Pudera eu voltar o tempo.

Porque os últimos anos da vida devem ser comemorados. Devem ser dias de atividades, de alegrias, de entretenimento. E essa diversão, essas pequenas atividades precisam ser oferecidas aos idosos. E como saber quais serão os últimos anos?

Eles não podem fazer passeios iguais àqueles de antigamente, mas também não podem ficar restritos a aposentos, com mínimas interações com o mundo e com as pessoas / familiares da casa.

Sei, pela própria experiência, somos ocupados e não sobra muito tempo para repartir com eles. Infelizmente essa é uma verdade e quem tiver a oportunidade de contemplar o mundo por mais tempo irá constatar na própria carne.

Não preciso chegar lá para sentir na boca o gosto amargo da desatenção.

Gostaria que cada um pudesse usar uma máquina do tempo e viajasse para essa posição (já que não podemos viajar para canto nenhum). A posição do Idoso (com “i” maiúsculo), aquele que você conhece e que recebe de você doses de atenção.

Essa colocação (a da viagem do tempo) deve ser imaginada com a sinceridade que somente o seu íntimo pode dar. O que você oferece é exatamente o que espera receber no fim de seu caminho?

Seja qual for a sua resposta, o momento atual enseja maiores reflexões para todos que têm ainda a oportunidade de fazer melhor do que eu fiz.

O assunto deve ser repensado, peço a vocês. E está sendo pensado pelo mundo.

A Assembleia Geral da ONU declarou 2021-2030 como a Década do Envelhecimento Saudável. Em Genebra, 14 de dezembro de 2020.

É necessário reconstruir as idéias e se preparar para colocar o idoso no lugar que ele merece. E não é no quarto ao lado, ou pior.

Em 2025, o Brasil vai ocupar o sexto lugar em número de idosos no mundo.

É preciso valorizar, respeitá-lo para que ele se sinta pertencente a este mundo. Imunizá-los do preconceito.

Eles têm muito a oferecer - além do espelho que reflete você no futuro – se ele tiver a chance de mostrar e se você puder ser sensível o suficiente para ver, sentir e aprender.

Gostaria de iniciar uma reflexão, um encorajamento para uma nova postura frente aos idosos do mundo, do mundo da sua casa, da sua famíliia, para apoiar uma mudança dentro de todos. É um desafio urgente a abraçar.

Precisamos mudar amigos, porque um dia vamos chegar lá e sentir o resultado dessa transformação.

Ou não.

(Uma homenagem à minha mãe).