A tocha
- jade turquesa
- 10 de out. de 2020
- 2 min de leitura
Andava solta na vida. Tinha soltado as amarras que me prendiam ao trabalho, escravidão que cultivava como sendo o centro do meu universo. Cada coisa! Passei 41 anos apertando o mesmo botão de elevador. Agora me explica como a gente pode? Explico, a gente pode. Agora, sério, tinha um lado bom, fiz amigos reais.
Nesses anos o trabalho foi comprimindo a convivência familiar a medida que as responsabilidades aumentavam, mas nem sempre foi assim. Convivi muito com algumas partes da família (ia dizer facções, achei melhor substituir o termo). Tive a época do baralho com uma fatia familiar. A época da balada com outra. Da viagem, da briga, da perda, do engano e patati patata. Por aí passaram os anos. Meu primo tinha (tem) três filhos encantadores. Curti muito com eles. Admito que um quinhão a mais pasei com as meninas (o moleque era o mais novo, as vezes sobrava). Foram anos e anos de cumplicidade com aquelas crianças. Noites vendo filmes de terror (sério, a gente gostava), madrugadas de ovos fritos, manhãs de sono, tardes de ginástica (obrigava as meninas a fazerem comigo), viagens à praia, idas ao teatro, mergulhos em museu. Não pensava neles como meus filhos, eram pura alegria para mim, uma relação de amizada que iluminava meus dias. Era espiritual. E no trio tinha (tem) uma taurina. Uma ligação astral evidente, uma semelhança gravada na lua. A outra, filha do meio, uma capricorniana encrenqueira, dizem ser o signo que melhor convive com o taurino. Mentira deslavada, diriam as duas irmãs. Eu sempre soube que existia um coração apertado de amor ali dentro. O moleque, hoje um gato amoroso, mantém o olhar de garoto. Todos são adultos agora.
Logo agora que estou solta na vida...
Mas a vida, que ensina a gente a ser mais gente, iluminou mais ainda o meu caminho. Acendeu um farol vigoroso e me trouxe um reluzente presente. Não tem palavra no vocabulário que conheço para expressar o sentimento de receber esse pacote.
Recebi a incumbência de trabalhar, de novo, com responsabilidade.
Desta vez, felizmente, só com amigos.
Aquela menininha, a irmã do meio, a do coração escondido me deu a grata oportunidade de viver de novo a louca experiência dos ovos fritos da madrugada. A nova velha cumplicidade.
Helena Iluminou minha vida.
Afilhada querida, feliz dia das crianças. Nossa Senhora Conceição Aparecida te abençoe.

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