A anestesia do excesso.
- jade turquesa
- 23 de mai. de 2020
- 3 min de leitura
Acorda, levanta correndo, café rápido, emails, recados, agenda, lavanderia, supermercado, ginástica, pé, mão, cabelo, trabalho, lojas, compras...hum as compras.
Dorme tarde, levanta correndo, café blá blá blá...Quanta preocupação e o tempo vai passando na ponta do seu nariz e você não vê. Não é assim?
Viver, correr, comprar, vestir, se apresentar da melhor forma possível, não importa a idade.
Tenta acompanhar (sabe Deus como) a moda, afinal todos procuramos o belo, o bonito (aquele modelo masculino de olhos azuis que veste aquela roupa, iiiihh nem vi a roupa), aqueles corpinhos femininos magrelos que tudo cai bem (que ódio).
Verdade que a moda, faz tempo, deixou de ser uma exclusividade das elites. Tem pra todo o mundo.
Ela não é só uma futilidade, tem lá seu valor histórico. Por exemplo, nos períodos pós-guerras mundiais a roupa feminina mudou total, ficou mais prática e confortável com a chegada das mulheres no mercado de trabalho. Os homens morriam na guerra. Elas tinham que trabalhar sem lacinhos.
Nos tempos seguidos de paz o mundo se reconstruiu da forma já conhecida, se reorganizou com as mesmas estruturas. E chegou até aqui.
Não sei você, mas eu cheguei aos trancos e anestesiada por vários excessos.
Duvido que cada um, dentro da limitação que a vida impôs, não tomou dessa droga para deixar de sentir alguma coisa.
Li numa revista uma frase impactante: "a economia está em colapso porque as pessoas só estão comprando o que precisam". Sucumbi à verdade. Quanto excesso!
... enquanto se aguarda a vacina, tudo mudou, O que é essencial agora e não tem pra vender? Eu digo, quero sobreviver!
Obrigados à sentir a dose da anestesia nas veias, não enxergo outra coisa a não ser uma página em branco no futuro. E não é só na moda.
Escuto muito frases otimistas tipo "vai passar", "quando tudo voltar ao normal", "vai melhorar", mas você acha mesmo que algo poderá voltar ao normal? Aquilo era normal?
Eu não quero mais aquela minha normalidade débil. Preciso progredir.
Nos longos períodos de leitura que me entrego agora, li um conto de amor verídico e recente.
Uma brasileira e um francês se conheceram no carnaval deste ano e não se desgrudaram por 48 horas. Se envolveram mesmo estando usando, ambos, fantasias ridículas, pelo que entendi e como sempre acontece na vida, quando ela fica real, cada um voltou para sua casa (e o francês para Paris, claro).
Passaram 15 dias se derreteendo em saudade, mergulhados em ligações de facetime, mensagens amorosas e o destino amigo deu um tapinha com uma viagem de trabalho para a Islandia, com direito a paradinha estratégica em Paris. Ela arrumou a mala. Vapt.
Adivinhe. Chegando em Paris, a cidade mais linda do mundo se entregou à pandemia e a garota se viu morando num apartamento com um homem que tinha conhecido por 48 horas. Vida nova da porta pra dentro.
Disse que passou a usar o Duolingo para estudar francês kkkk, você já usou o Duolingo? É um curso grátis de línguas, na internet, para iniciantes. Com muito vinho, até o Duolingo serve! Se endenteram, vinho francês pratica milagres, eu sei.
A história de amor ainda continua, com Paris atualmente reabrindo as portas paulatinamente para a vida. Ela agora experimenta Paris, apaixonada (que inveja!).
E eles, vivendo a loucura da paixão ainda não querem deixar para trás o excesso. Não se vêem acordar um dia sem se olhar nos olhos. Bonito demais.
Anestesiados.
Só esse excesso vale! E só para eles a página não está em branco.

Lindíssimo o texto! Amei 👏👏
Quem não quer deixar essa correria pra lá e se ver refletido no brilho dos olhos de alguém quando acordar. Bom demais! Amei o texto.